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Após incêndio, ciclistas e ativistas se unem para cuidar do Morro da Baleia em Jundiaí

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

25/08/2024 por Redação

Incêndio que atingiu a área de vegetação em abril deste ano fez com que moradores, ciclistas e ativistas planejassem ações de reflorestamento e proteção ao local, que já foi diversas vezes alvo de queimadas. Morro da Baleia em Jundiaí (SP) tem esse nome por conta de uma pedra que se assemelha uma baleia
Arquivo Pessoal
O que era para ser só mais uma queimada atingindo uma área de vegetação foi a gota dágua para que moradores unissem esforços para cuidar e proteger do Morro da Baleia, um dos pontos turísticos mais importantes de Jundiaí (SP). A última queimada foi registrada em 26 de abril deste ano.
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O Morro da Baleia faz parte da Serra do Japi, conforme explica a ativista ambiental Letícia Maria Pereira, participante do Coletivo Japy, que conta com seis diretores e voluntários que atuam na área técnica.
Meus pais contam que lembram de fazer piquenique e caminhada lá. A mata era bem mais preservada antigamente, tinha uma variedade de espécies de animais. Hoje, tenho registros de poucos animais avistados lá, geralmente, tatus, cachorros-do-mato e algumas espécies de aves,
Para Letícia, esta parte da Serra do Japi é esquecida pelos órgãos públicos e a falta de políticas públicas fez com que os moradores precisassem agir.
As primeiras ações dos moradores foram durante o incêndio de 26 de abril, quando tentaram conter as chamas. A partir daí, o Coletivo Japy uniu esforços com um brigadista voluntário da Defesa Civil de Várzea Paulista para fazer o rescaldo da área no dia seguinte. Desde então, o grupo tem acompanhado toda a devastação causada pelo fogo e decidiu criar um projeto para a recuperação da área.
A Promotoria de Justiça de Jundiaí, recentemente, abriu um procedimento para acompanhar as políticas públicas de prevenção e combate aos incêndios que frequentemente atingem o local. A prefeitura, Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros têm 20 dias pare responder aos questionamentos.
Trecho do Morro da Baleia após incêndio que atingiu a área em abril deste ano
Arquivo Pessoal
Plantio
Desde abril, o Coletivo Japy plantou cerca de 100 mudas de árvores de espécies nativas da região. Segundo Letícia, o grupo não estabeleceu uma meta de plantio, pois depende da doação de mudas para dar continuidade ao projeto de reflorestamento: A meta mesmo é incentivar as pessoas a cuidar do local e evitar futuras queimadas.
Além de contribuir para o equilíbrio ecológico da região metropolitana de Jundiaí, as ações de plantio e combate às queimadas ajudam a aliviar mudanças climáticas e contribuem para a segurança hídrica da região.
O Morro da Baleia é uma importante área para a recarga hídrica da Bacia do Rio Guapeva, destaca Letícia.
Coletivo plantou cerca de 100 mudas de espécies nativas
Arquivo Pessoal
Pedra da baleia
Segundo a prefeitura, o Morro da Baleia é formado por propriedades particulares e tem uma extensão de, aproximadamente, 348 hectares. É caracterizado pela presença de fragmentos remanescentes de Mata Atlântica, eucaliptos, gramíneas exóticas e solo litólico, um tipo de solo caracterizado por ser muito raso e apresentar um baixo grau de desenvolvimento.
A área tem esse nome por conta de uma das pedras do local, que tem uma rachadura que se assemelha a uma baleia com a boca aberta.
Morro da Pedra da Baleia em Jundiaí (SP) faz parte da Serra do Japi
Arquivo Pessoal
Unindo esforços
O Coletivo Japy fica responsável pelas ações de plantio de árvores nativas pensando na recomposição da flora e fauna local. E, se quanto mais gente, melhor, o projeto recebeu de braços abertos o apoio de moradores, ciclistas e esportistas que usam o trecho.
Entre eles, está o ciclista Dagoberto de Melo, que mora em frente ao Morro da Baleia desde criança. Ele conta que presenciou diversas vezes a área ser atingida pelo fogo. Com a intenção de diminuir o número de ocorrências, o ciclista pediu ajuda ao grupo de um projeto que já fazia parte, o Gerando Bikers.
Aos fins de semana, a gente passa por trechos de trilhas, geralmente usadas pelos ciclistas e esportistas, e limpa estes caminhos. Em setembro do ano passado, começamos a restaurar a trilha no Morro da Baleia, conhecida há 20 anos pelos ciclistas como trilha do Magayver.
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O Morro da Baleia sempre esteve no horizonte de Dagoberto: Pelo tamanho e pelo legado que tem para a comunidade, para a cidade.
Além do trabalho de limpeza, ele teve a ideia de fazer aceiros, faixas em áreas de vegetação, no Morro. Os colegas do projeto se animaram, arregaçaram as mangas e conseguiram atingir o objetivo.
Assim, os bikers estão realizando um importante trabalho com as trilhas (que também são aceiros) para ajudar na preservação do Morro e promover uma espécie de ecoturismo naquela região, conta Dagoberto.
Dagoberto e outros ciclistas uniram esforços para limpar e abrir aceiros na área de mata
Arquivo Pessoal
Os aceiros contribuem para conter o avanço dos focos de incêndio, funcionando como barreiras para que o fogo não se alastre em áreas de vegetação. São faixas de terra, sem vegetação, que separam áreas de mata, impedindo que o fogo avance de um lado para o outro.
Essas medidas são vitais não só para proteger a vegetação, mas também para salvaguardar cercas, redes elétricas, animais e residências próximas, estabelecendo uma zona de segurança que impede a propagação do fogo. explica Letícia.
Os aceiros contribuem para conter o avanço dos focos de incêndio, funcionando como barreiras para que o fogo não se alastre em áreas de vegetação.
Arquivo Pessoal
Sensação de abandono
Letícia ressalta que os órgãos públicos deveriam atuar de forma mais rígida e participante para diminuir as ocorrências de incêndio e devastação na área.
Fiscalização das áreas onde as queimadas são recorrentes. Autuação das pessoas e empresas responsáveis que não fazem manutenção de prevenção em seu terreno. Por exemplo, não há sequer registros de pessoas que tenham sido encaminhadas para delegacia para registro de ocorrência em todos esses anos que o Morro da Baleia é incendiado,
Incêndio de grandes proporções atingiu Morro da Baleia em Jundiaí em 2021
Arquivo Pessoal/Daniel Carrero/ DCC Aero Soluções
De acordo com a prefeitura, o Morro da Baleia está localizado na Zona de Conservação Ambiental da Malota, Território de Gestão da Serra do Japi e Zona de Conservação da Vida Silvestre. A Divisão Florestal da Guarda Municipal é responsável pelas ações de fiscalização ambiental em todo Território de Gestão da Serra do Japi.
Segundo a prefeitura, o órgão, em conjunto com Departamento de Meio Ambiente, faz ações de fiscalização em todo território com objetivo de coibir toda prática que possa prejudicar o meio ambiente, como queimadas/incêndios, supressão de vegetação, descarte de materiais inservíveis, ocupação irregular do solo, intervenção em área de preservação permanente, caça, eventos não autorizados, invasão de propriedades particulares.
A área, assim como todo o município de Jundiaí, está inserido em uma Área de Preservação Ambiental, de acordo com o Decreto Estadual Nº43.284/1998, e apresenta área de preservação permanente em função da presença de nascentes e cursos d’água.
A Prefeitura de Jundiaí, por meio de seus técnicos de diferentes Unidades de Gestão, em conjunto com a sociedade civil, Conselhos Ambientais e Fundação Serra do Japi, estão constantemente em contato, discutindo e planejando políticas e ações públicas a serem aplicadas no Território de Gestão da Serra do Japi, assim como em todo o município, objetivando a proteção, preservação, recuperação e restauração do meio ambiente, informou em nota.
Capacitar, prevenir...
Para Letícia, os moradores podem atuar como agentes comunitários ambientais no combate aos incêndios e precisam compreender que têm papel fundamental no trabalho preventivo.
O descarte irregular de bitucas de cigarro, garrafas de vidro, descuido com fogueiras, atear fogo em lixo, são atitudes que colocam a mata em risco. Por isso, a limpeza constante nas áreas de vegetação contribui para evitar focos de incêndio, enfatiza Letícia.
Letícia Maria Pereira, tecnóloga em controle e saneamento ambiental e ativista do Coletivo Japy
Arquivo Pessoal
... e pensar no futuro
Para Dagoberto, o movimento que começou tímido com a intenção de fazer algo relevante no presente, fez com que o grupo percebesse que pode e precisa fazer muito mais para garantir um futuro à área de vegetação.
Estamos nos organizando, pensando no futuro desse projeto. É um espaço que pode virar ponto de passeio escolar. Tem animais lá em cima, plantas, árvores. Podemos montar alguma ação educativa em relação à fauna e flora do morro. Ali pode ser a primeira entrada pra Serra do Japi, para as pessoas conhecerem. As ideias vêm fluindo, conta o voluntário.
Essa visão de transformar o Morro em um centro de educação ambiental e ecoturismo consciente, enfatiza a importância da prevenção e do cuidado contínuo com nosso ambiente natural, afirma a ativista.
Moradores se unem para reflorestar e proteger o Morro da Baleia em Jundiaí (SP)
Arquivo Pessoal
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