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Conflitos forjados e cenas alteradas: MP denuncia 68 PM’s após aumento de mortes em confrontos em MT

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

01/07/2024 por Redação

Em 2020, foram 128 mortes, já em 2023 o número saltou para 223. Neste ano, até maio, 86 pessoas foram mortas em confrontos. Disparo de arma de fogo
Divulgação (Imagem ilustrativa)
O número de pessoas que morreram em confrontos com policiais cresceu 74% nos últimos quatro anos, em Mato Grosso. Em 2020, foram 128 mortes, já em 2023 o número saltou para 223, segundo dados da Secretaria Segurança Pública do Estado (Sesp-MT), enviados à TV Centro América, após solicitação via Lei de Acesso à Informação (LAI). Na última sexta (28), o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) denunciou 68 PM’s e um segurança particular suspeitos de forjar conflitos e alterar as cenas do crimes, conforme investigações iniciadas em 2022.
A TV Centro América entrou em contrato com o comandante geral da PM, coronel Alexandre Mendes, sobre como avalia o crescimento de mortes e como a instituição tem atuado para reduzir a letalidade policial, mas, até a publicação desta matéria, não teve resposta. Já sobre a denúncia do MP, Mendes enviou uma nota negando que as mortes foram forjadas. (leia nota completa no fim da reportagem)
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Neste ano, até maio, 86 pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança. No ano anterior, no mesmo período, foram registradas 87.
O Ministério Público informou que, em 2023, mais de um a cada três homicídios foram cometidos por policiais militares. De acordo com o órgão, é necessário que a Justiça intervenha para parar a violência direcionada a grupos específicos da sociedade, jovens que habitam as periferias, em geral marcados pela cor da pele e pela condição social de pobreza.
A TV Centro América também pediu informações sobre o gênero, raça e idade das pessoas que morreram, mas a Sesp informou que esses dados não são obrigatórios na hora de preencher o Boletim de Ocorrência e que, por isso, não tem o levantamento do perfil das vítimas.
Conflitos forjados e cenas alteradas
Na denúncia do MP, consta que a investigação resultou em 23 homicídios consumados, sem contar outras nove vítimas que conseguiram escapar com vida, e que perícias revelaram uma quantidade de disparos efetuados pelos policiais totalmente descondizente com as situações de “conflito”, sugeridas nos dados oficiais registrados pelos próprios militares.
Em todos os casos, a Politec [Perícia Oficial e Identificação Técnica] revelou a não preservação e intensas alterações nos locais dos crimes”, acrescentaram, informou o MP.
Ainda conforme o MP, entre os exemplos citados, estão casos em que o veículo utilizado pelos supostos “assaltantes” foram alvejados por mais de 100 disparos de arma de grosso calibre, sem registro sequer de um disparo por parte dos suspeitos.
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Além disso, de acordo com as investigações, o grupo seguia etapas semelhantes, onde uma pessoa, no caso um segurança particular, agia como informante dos policiais e recrutava as vítimas para realização de supostos assaltos. Em seguida, havia a preparação à ação policial simulada, depois a reunião com as vítimas e, por último, a etapa da recompensa, quando o segurança particular recebia pelos serviços prestados de cooptação das vítimas e participação na empreitada criminosa.
Alvos
Apesar da ausência das informações que revelaria o perfil das pessoas mortas, a antropóloga e professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz, disse que, na maioria das vezes, as principais vítimas são pessoas pretas, pobres e da periferia.
“O fato de não se divulgar os dados, de quem são os mortos e em que condições morreram, deixa duvidoso. A ausência de informação é uma informação, está mostrando a ocultação e, mais que isso, incapacidade de gestão sobre o próprio trabalho, de prestação de contas da atividade repressiva”, disse Jacqueline Muniz.
A especialista também informou que, mortas, essas pessoas deixam de contribuir com as investigações e, isso, acaba por favorecer os grupos criminosos.
“Você está matando a ‘galinha dos ovos de ouro’ da investigação. É menos um criminoso que será preso e entregue à Justiça. É menos um que o crime tem que manter na cadeia. Matar o criminoso sai barato e o crime organizado agradece, porque permite uma melhor reorganização e economia de gastos”, pontuou.
Relembre alguns casos:
Cinco suspeitos morrem em confronto com a polícia
Homem é morto durante confronto com a PM após suposto roubo de carro
Quatro pessoas são mortas em confronto com a polícia suspeitas de integrarem organização criminosa
Suspeito de roubo foge da polícia, cai de telhado e morre em confronto
Idoso é morto suspeito de reagir à abordagem da Rotam
Jovem é morto em confronto com a PM após abordagem em ponto de tráfico de drogas
Suspeito de furtar casa é morto pela polícia e comparsa é preso

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