Geral

Após 104 anos, begônia que quase foi dada como extinta é redescoberta na Ilha de Alcatrazes

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

09/10/2024 por Redação

Achado aconteceu durante um estudo sobre a flora da região. Planta está criticamente ameaçada de extinção. Begonia larorum foi redescoberta na Ilha de Alcatrazes, litoral de São Paulo
Gabriel Pavan Sabino
Após 104 anos desde a primeira e única coleta registrada, que ocorreu em 1920, a espécie Begonia larorum foi redescoberta na Ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, em fevereiro de 2024. A planta era praticamente dada como extinta por pesquisadores da área.
A pesquisa, liderada por Gabriel Pavan Sabino, foi realizada no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, área administrada pelo ICMBio. A redescoberta foi publicada na revista científica Oryx, na última sexta-feira (4).
Meses depois, em setembro, uma nova população composta por 19 indivíduos, muitos deles com flores e frutos, foi localizada em uma área isolada ao sul da ilha. “Andamos por toda a ilha desde 2022 e já estávamos considerando ela como extinta. Mas, felizmente, a reencontramos”, relata Sabino.
O achado ocorreu durante um estudo sobre a flora da ilha, no qual os pesquisadores também estavam atentos à possibilidade de encontrar a Begonia larorum. No entanto, segundo Sabino, sempre existiu o mistério sobre se a espécie ainda prosperava na região.
A espécie
A Begonia larorum é uma espécie de erva que se ramifica bastante na base. Suas folhas são um pouco diferentes da maioria das espécies do gênero, pois não são tão assimétricas.
Um exemplo de begônia que ficou muito famosa no mercado de flores é a Begonia maculata, nativa do Rio de Janeiro, que tem folhas bem assimétricas e pintadas de branco.
A espécie recém-coletada não tem essas características. Suas flores têm por volta de 1 cm e ficam organizadas em uma inflorescência com muitas flores na ponta dos ramos. As plantas possuem flores femininas e masculinas no mesmo indivíduo e, de acordo com Sabino, informações sobre a reprodução da planta ainda são um mistério.
Prancha da espécie Begonia larorum
Gabriel Pavan Sabino
“Não temos informação sobre qual inseto seria responsável por sua polinização. Em campo, vimos a mosca Allograpta exotica se alimentando do pólen das flores masculinas. E a dispersão dos frutos é por meio do vento, já que eles têm estruturas que lembram asas. Vimos também que ela enraiza bem por estacas finas, então a propagação vegetativa deve ser importante”.
Preservação da espécie
Segundo o autor, a nova begônia deve ser classificada como Criticamente Ameaçada (CR), uma vez que existem poucos indivíduos na natureza, que estão dispostos em uma área de ocorrência muito pequena.
“Costumamos dizer que Alcatrazes é uma ‘ilha de uma ilha’, porque mesmo quando existia uma conexão por terra com o continente nos períodos glaciais, o ambiente do entorno era tão diferente que os organismos já estavam funcionalmente isolados por lá. Com o passar do tempo, os organismos vão se diferenciando geneticamente e morfologicamente até serem considerados espécies únicas”.
Área de ocorrência da espécie, na Ilha de Alcatrazes
Gabriel Mendes Marcusso
Ele ainda conta que as espécies endêmicas que ficam isoladas em uma ilha são especialmente vulneráveis à extinção, este é também o caso da begônia redescoberta.
“Qualquer desequilíbrio que ocorre, pode levá-las à extinção. A introdução de espécies exóticas ou até nativas com capacidades competitivas maiores também podem levar essas espécies endêmicas à extinção. E, uma vez que elas somem na ilha, não existe em mais nenhum local do mundo. Seria o fim da história natural dessas espécies” alerta.
Nesse caso, as medidas de conservação não devem se restringir apenas ao local de ocorrência natural da espécie, mas também incluir áreas fora desse habitat, a fim de garantir que, caso a espécie venha a ser extinta devido a alguma ação humana, tenham ela cultivada para reintrodução.
“O melhor para garantir uma diversidade genética da espécie seria ter mudas de diferentes indivíduos espalhadas por jardins botânicos, como o Plantarum, o Jardim Botânico do Rio e de São Paulo”, finaliza.
Para fazer essas mudas, é necessário apenas um pequeno pedaço do galho da planta, de forma que a população da Ilha de Alcatrazes não seria negativamente impactada pela coleta.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

Link curto:

TÓPICOS:
G1

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE

MAIS NOTÍCIAS DO RASTRO101
menu